Ritual

Como de costume, peguei minha cuia, apetrechos do chimarrão, liguei pra namorada confirmando o passeio, entrei no carro e dirigi rumo à usina do gasômetro. Nosso ritual de toda terça-feira, mais uma vez se cumprindo. Depois de estacionar o carro, desligar o som alto e trocar algumas palavras com o amigo flanelinha, fui ao ponto de encontro. Mal eu sabia, mas ali começava o fim.

Desde o começo do nosso namoro, íamos toda terça de sol apreciar o pôr-do-astro-rei no Guaíba, pois foi ali, numa terça do passado que nos conhecemos e nos beijamos pela primeira vez, banhados pela luz alaranjada do mais bonito entardecer do planeta. Sempre fui cético em relação a mandingas e qualquer tipo de crença popular, mas tomamos o pôr-do-sol como nosso amuleto da sorte, nossa simpatia do amor, e estava dando certo, mais de dois anos de namoro não era pra qualquer um.

Ela estava lá, linda como sempre. Eu, a vinte metros de distância já estava embriagado com seu perfume, me apaixonava cada dia mais por aquela menina mulher encantadora, fui chegando. Aquele sorriso (dentes perfeitamente alinhados, como a formação de barreira da zaga da seleção da Alemanha), já estava presente, com um ar de traquinagem, o que me fez pensar que algo estava no ar. Ela me abraçou, deu um passo pra trás, tirou da bolsa uma caixinha e da caixinha ela tirou uma aliança, então sussurrou:

- Casa comigo?

Meu coração acelerou, minha face ficou ruborizada, lágrimas caiam dos meus olhos, o mundo emudeceu por instantes e eu balbuciei emocionado ao pé de sua orelha:

- Sim...

Foi o fim, o fim do nosso namoro e o começo da nossa eterna cumplicidade. Hoje ainda vamos ao Guaíba toda terça possível, apreciar o adormecer do guardião do nosso amor.

Comentários

Nata disse…
Melhor texto da semana! =)
Lindo, mesmo mesmo.
beijooo!
MiLa disse…
"Bem criativo meu namorado" hehehe
Muito bom mor!