TSS!

Ele acordou. Abriu vagarosamente os olhos, como que aproveitando um pouco mais o belo sono da noite.
TSS!
Ele sabia que faltavam exatamente três minutos para as dez.
TSS!
Duas enfermeiras estavam de pé, ao lado da cama, ele grunhiu um bom dia enquanto se espreguiçava, elas sorriram um bom dia de volta.
TSS!
Estava na hora da injeção, aquela que o deixava calmo, sempre bem-vinda para começar a manhã.
TSS!
Escovou os dentes e foi caminhando pelo corredor até o refeitório, exatos vinte e dois passos.
TSS!
Oi para o Alaor, sentado na primeira cadeira.
TSS!
Oi para o Bueno sentado na terceira.
TSS!
Sentou e esperou seu mingau de aveia de quatro colheradas.
TSS!

- Senhor Miguel, algo novo para me contar hoje? Como está sua rotina? Dormiu bem? Algum parente veio lhe visitar?

Ao que Miguel respondeu, repetindo as mesmas palavras que usa toda terça-feira de entrevista, nos últimos nove anos de internação:

- TSS! O barulho do prato da bateria. TSS! O barulho do prato da bateria. TSS! O barulho do prato da bateria. Está escutando, doutor? TSS! Mamãe disse que ele mora aqui dentro. TSS! Dentro da minha cabeça quebrada.

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