Meu Primeiro Chimarrão

Quando criança experimentei chimarrão, algo natural aqui nas famílias do sul. Senti seu amargor e do alto de minhas papilas gustativas infantis, carimbei: não gosto disso. Cresci com essa verdade e jamais questionei a percepção do pequeno eu.

E não que tenham faltado oportunidades. Foram décadas de vida assistindo rodas de chimarrão e recusando. Não gosto. Não gosto. Não, obrigado, não gosto. 

Até que um dia desses ganhamos uma cuia. O primeiro pensamento foi repassar o presente para alguém que realmente faria bom proveito do artefato, afinal, não gosto de mate.


Não gosto de mate?


Uma interrogação nasceu ao final da frase. Será que devo acreditar na memória de um menino de oito anos? Entre as convicções daquele guri também estavam que a carreira de astronauta era possível e que torcer para um time de futebol era a coisa mais divertida do mundo.


Então resolvi comprar os apetrechos: erva, seda, piteira, triturador. Opa! Texto errado. Risos. 


Então resolvi comprar os apetrechos: erva, bomba e térmica. Coloquei a chaleira para esquentar e preparei com cuidado, muitas consultas ao youtube e leitura de artigos depois, o drinque dos guaranis. 


Sorvi lentamente o preparo, deixei a água quente e terrosa tomar conta do paladar, de minhas entranhas, da minha alma. Antes tarde do que nunca, entendi a paixão pela infusão. Posso ter me apaixonado também.


Que eu siga me libertando das certezas, experimentando primeiras vezes e aprendendo a gostar do amargo da existência.






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