Branco, pero no mucho.

Sou branco, até atravessar a fronteira do México.
Sou branco, até entrar em solo europeu.
Sou branco, pero no mucho.

Correndo no parque. 
Bairro de bacana.

Seis policiais militares depois da curva.

Sou branco?

Quem não deve não teme, dizem.
Explica isso pro irmãozinho que toma atraque só por existir.

Meu moletom rasgado entrega.
Meu tênis barato entrega.
Meu calção de futebol entrega.
Não pertenço.

Seis policiais militares depois da curva.

Hesito. Penso em voltar.
Agora é tarde. 
Cabeça erguida e o cu fechado por motivos históricos e raízes periféricas.
Diminuo o passo, alongo os braços para deixar bem claro meus motivos de estar ali ao meio-dia de uma quarta-feira.

A polícia nem olha na minha cara. Eu nem olho na cara deles.
Não durmo de touca, nem corro.



Comentários

Unknown disse…
Nossa! Texto muito massa.