O Homem da Praia

Caminhar à beira-mar sempre fez bem pra minha cabeça, pra minha alma. Sair andando com aquela infinidade de areia pela frente é libertador. Eu juro que percorreria os mais de oito mil quilômetros da costa brasileira, a pézito, se pudesse.

Na quinta passada saí do trabalho e fui aproveitar o final de tarde, como costumo fazer. O tempo ameaçava ficar feio. Do céu que estava sobre mim, quatro quintos permaneciam limpos e uma pequena parte apresentava nuvens carregadas vindo em direção à cidade.

Com a fome de caminhar e deixar o stress na natureza, coloquei os fones nos ouvidos, startei uma playlist melancólica qualquer, puxei meu isqueiro, fiz a clássica concha com as mãos para vencer o vento, acendi meu baseado e peguei a reta de areia, com destino ao farol que mora no final da praia.

Olhar para o mar e sentir o gelado dele nos meus pés clareia a mente, coloca as ideias no lugar e traz uma perspectiva maior do mundo.

Após meia hora caminhando, o clima, que antes estava mais pra bom do que pra ruim, começou a piorar consideravelmente. De repente, um clarão, seguido por um forte estouro e uma sensação de calor que invadiu meu corpo.

Um raio, pensei. Esse caiu perto.

Então, lembrei da minha primeira memória, o rosto da vó Ruth sorrindo; recordei um gol que fiz no pátio da escola, sexta série, de cobertura; revivi por alguns segundos meu primeiro amor; refleti sobre a briga feia que tive com meu irmão; ponderei se as escolhas profissionais tinham sido acertadas, principalmente a demissão de 2011; lembrei do tonho, meu cachorro; me arrependi de ter demorado para tomar algumas atitudes e concluí que minha vida, até aquele momento, não tinha passado de um sete.

Sete não é a melhor nota, mas é o famoso poderia ter sido pior. Fosse um quatro, eu ficaria meio abalado. Um dez? Me odiaria por ter tido uma vida nota dez. Isso é coisa de quem não entendeu nada do que tá acontecendo.

Sete até que foi bom.

Agora estou aqui, caminhando eternamente em direção ao farol.





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